O Conceito Bobath, Origem e Evolução

O Conceito Bobath é uma abordagem amplamente utilizada na reabilitação de indivíduos com condições neurológicas, particularmente aquelas que envolvem disfunção motora, como acidente vascular cerebral ou paralisia cerebral. Aqui está uma visão geral de sua origem e desenvolvimento histórico:

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O Conceito Bobath é uma abordagem amplamente utilizada na reabilitação de indivíduos com condições neurológicas, particularmente aquelas que envolvem disfunção motora, como acidente vascular cerebral ou paralisia cerebral. Aqui está uma visão geral de sua origem e desenvolvimento histórico:

Origem do conceito Bobath

  • Foco inicial: Os Bobaths começaram seu trabalho com crianças diagnosticadas com paralisia cerebral, depois expandindo-o para incluir adultos com condições neurológicas, como acidente vascular cerebral, lesões cerebrais e esclerose múltipla.
  • Fundado por: Dr. Karel Bobath, neuropsiquiatra, e sua esposa Berta Bobath, fisioterapeuta.
  • Período de tempo: O conceito foi desenvolvido na década de 1940 em Londres, Reino Unido.

Princípios-chave (conceito original)

O Conceito Bobath foi baseado em várias ideias fundamentais:

Ênfase na capacidade de mudança do sistema nervoso central (neuroplasticidade).

  • Inibição de padrões de movimento anormais (por exemplo, espasticidade e reflexos).
  • Facilitação de padrões normais de movimento usando manuseio e posicionamento terapêuticos.
  • Tratamento do neurodesenvolvimento (NDT): Focado em sequências de desenvolvimento e controle postural.

Evolução ao longo do tempo

O Conceito Bobath evoluiu significativamente ao longo das décadas:

  • Décadas de 1950 a 1970: Ênfase na inibição do reflexo e normalização do tom.
  • Décadas de 1980 a 1990: Mudança para abordagens orientadas a tarefas e princípios de aprendizagem motora.
  • Anos 2000 – presente:
    • Incorpora neurociência contemporânea, teorias de controle motor e prática baseada em evidências
    • Maior foco na atividade funcional, participação e definição individualizada de metas.
    • Reconhecimento da importância do cuidado centrado no paciente e fatores contextuais (por exemplo, ambiente, motivação).

Influência global

  • O Conceito Bobath é usado em fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.
  • Ministrado por meio de centros de treinamento especializados em Bobath e instrutores internacionais.
  • Adaptado e aplicado em muitos países, influenciando a neurorreabilitação em todo o mundo.

Definição do Conceito Bobath Contemporâneo

Ms. Cláudia R M Alcântara de Torre 
Fisioterapeuta
Coordenadora Instrutora do Conceito Bobath
Certificado no Método TheraSuit
Mestre em Fisioterapia- UFSCar

A abordagem do Tratamento Neuroevolutivo / Conceito Bobath é um conceito vivo e atualizado que é utilizado por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, fundamentado nas evidências mais recentes sobre as teorias controle motor, aprendizagem motora, desenvolvimento motor, biomecânica e neuroplasticidade em consonância com os preceitos da Classificação Internacional da Funcionalidade. Essa abordagem continua a evoluir e se adaptar à medida que novos estudos são publicados. 

A definição publicada por Cayo,2015 é uma referência que abaliza a utilização desta abordagem sendo esta considerada: “um modelo de prática clínica interdisciplinar e holístico com base em pesquisas atuais e em evolução, que enfatiza o manuseio terapêutico individualizado com base na análise de movimento para a habilitação e reabilitação das pessoas com fisiopatologia neurológica. Usando a Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), o terapeuta aplica uma abordagem de resolução de problemas para avaliar a atividade e participação a fim de identificar e priorizar integridades e deficiências relevantes como base para o estabelecimento de resultados alcançáveis aos pacientes e cuidadores. Um conhecimento profundo do sistema de movimento humano, incluindo a compreensão do desenvolvimento típico e atípico; e especialização na análise do controle postural, movimento, atividade e participação durante toda a vida, formam a base para o exame, avaliação e intervenção. O manuseio terapêutico, usado durante a avaliação e a intervenção, consiste em uma interação recíproca dinâmica entre o paciente e o terapeuta para ativação do processamento sensório-motor ideal, o desempenho da tarefa, e a aquisição de competências para a realização de participação em atividades significativas” 1.

O estudo recentemente publicado por Mayston, 2024 com o título Modelo de Raciocínio Clínico Bobath também fundamenta o Conceito Bobath atual onde é ressaltado que se trata de uma abordagem de ciência de sistemas para a complexidade das condições do neurodesenvolvimento, incluindo a paralisia cerebral, baseada em fatores contextuais do indivíduo e no seu ambiente social, principalmente o meio familiar. Enfoca também a compreensão das inter-relações entre o desenvolvimento típico e atípico, a fisiopatologia (sensoriomotora, cognitiva, comportamental) e a neurociência, e o impacto destas condições de estrutura e função corporal na atividade e participação. A intervenção é determinada com base na análise e interpretação do que a criança consegue e deseja fazer. A reavaliação contínua garante que a intervenção permaneça eficaz para a criança e a sua família. O foco está nos domínios de atividade e participação, mas também é importante reconhecer o domínio da função e estrutura do corpo da CIF para determinar quais as deficiências que podem ser passíveis de uma gestão que tenha um impacto positivo em vários resultados de atividade e participação2. 

Cabe ressaltar também que a intervenção pelo Conceito Bobath utiliza manuseios, ou o uso das mãos do terapeuta, mas não de forma passiva como muitas vezes é mal interpretada. O recém artigo publicado por Sorvol, 2022 traz relevantes esclarecimentos sobre o tema como por exemplo que considerar o tocar com as mãos apenas como um fenômeno passivo e estático nega a importância do toque terapêutico e sua complexidade na prática clínica. Isso inclui aspectos comunicativos do tocar das mãos, a dinâmica contínua de interações geradas pelo toque, o aspecto sensorial gerado e movimentos corporais desencadeados nas sessões das terapias. Em resumo, da perspectiva ativa, é possível avançar na compreensão do direcionamento das mãos que como um fenômeno intersubjetivo que surge devido a uma conexão profunda entre movimento, percepção e (inter)ação e, por sua vez, deve, por conseguinte, ser considerada uma característica típica da prática clínica em fisioterapia pediátrica. O que a criança experimenta é importante para o que a criança aprende. Ambientes de aprendizagem adaptados incentivando a criança a auto exploração irrestrita de repertórios de movimentos próprios são importantes. No entanto, as crianças que se desenvolvem de forma atípica com frequência requerem suporte individualizado, facilitação e manuseio para ajudar que eles se envolvam, coletem informações do ambiente e se auto- explorem seus movimentos. Portanto, mostramos que a complexidade do tocar com as mãos não é nada a evitar, mas deve ser abraçada como parece básico para a prática clínica em fisioterapia pediátrica3. Este artigo explica e justifica a utilização das mãos dos terapeutas (seja fisioterapeuta, terapeuta ocupacional ou fonoaudiólogo) para o uso do “hands on” quando necessário e justificável. 

1.The NDT –Bobath Neuro-Developmental Treatment –Bobath) Cayo C, Diamond M, Bovre T, et al. Approach. NDTA Network. 2015; 22(2):1

2.Mayston M, Saloojee G, Foley SE. The Bobath Clinical Reasoning Framework: A systems science approach to the complexity of neurodevelopmental conditions, including cerebral palsy. Dev Med Child Neurol. 2023; 00:1–9.

3. Sørvoll M, Øberg GK and Girolami GL (2022) The Significance of Touch in Pediatric Physiotherapy. Front. Rehabilit. Sci. 3:893551. doi: 10.3389/fresc.2022.893551

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Oacy veronesi

Especialista em reabilitação neuromotora e instrutora certificada no conceito Bobath

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